
ANÁLISE
Splatoon 2
Território ainda mais colorido.
Por Henrique Pereira a
Splatoon foi um caso de sucesso contra todas as expectativas. Um jogo de tiros da Nintendo para a Wii U protagonizado por miúdos que se transformam em lulas e disparam tinta não é, em teoria, a mais apetecível das propostas. Mesmo com as excelentes impressões deixadas na E3 de 2014 ninguém acreditava que se poderia juntar ao panteão dos clássicos da Nintendo. Três anos depois e Splatoon 2 é um dos títulos mais esperados para a Switch, um jogo feito rapidamente de forma a catalisar o crescimento da série, agora numa plataforma que tem perspectivas muito melhores que a Wii U. No entanto, existe a percepção que Splatoon 2 está mais perto de ser uma expansão do que uma verdadeira sequela. Estes receios terão fundamento?
Como esperado, Splatoon 2 mantém o núcleo da jogabilidade do antecessor com a sua mecânica de tinta onde as armas, para além de causarem dano aos adversários, também servem para pintar o cenário, componente essencial para que se possa ter sucesso porque nas áreas pintadas com a cor do jogador é possível andar mais depressa, subir paredes, esconder-se e recarregar o nível de tinta quando se está transformado em lula. Isto cria uma dinâmica totalmente diferente de qualquer outro jogo de tiros, dando maior ênfase ao controlo do nível e ao movimento do jogador em vez da sua pontaria. Aliás, o principal modo multijogador tem como objectivo pintar a maior superfície possível do cenário com a cor do jogador. O resultado é uma jogabilidade extremamente divertida que junta grande parte das mecânicas de um jogo de tiros numa só, estando de acordo com a definição de uma boa ideia por Miyamoto. Também ultrapassa o estigma que existe em apontar com dois analógicos, sendo fácil para qualquer pessoa jogar e divertir-se, mesmo sem experiência e habilidade prévias em usar este esquema de controlo. Estes têm a qualidade esperada de um jogo da Nintendo e podem ser calibrados, assim como também permitem usar os sensores de movimento para apontar, método apreciado por alguns jogadores.Os mais experientes neste género podem pensar que Splatoon é menos profundo que outros jogos de tiros, mas estão enganados porque a destreza necessária para dominar o nível e usufruir de todas as potencialidades da transformação em lula cria diferenças abissais entre os jogadores mais e menos capazes. Os diferentes tipos de armas, sub-armas e armas especiais também acrescentam variedade. Para além de versões de tinta de armas como metralhadoras ou espingardas de atirador, há outras totalmente únicas como os rolos ou pincéis com caraterísticas apenas possíveis em Splatoon. Entre as novidades nesta sequela encontra-se um par de sub-automáticas que permitem desviar-se enquanto se dispara e uma espingarda com um chapéu de chuva que serve de escudo, ambas adições interessantes ao arsenal. As sub-armas são as típicas granadas, minas, entre outros apetrechos. Já as armas especiais são todas novas, sem que nenhuma das presentes no original se mantenha, pois eram demasiado poderosas, ainda que continuem a ter o potencial para mudar o curso de uma batalha. Para as usar é preciso carregá-las, algo que é feito à medida que se pinta o cenário. Se o jogador morrer, perde as armas. Existem imensas combinações destes três tipos de armas, mas não é possível fazer um conjunto personalizado.
Por outro lado, é possível personalizar a aparência do jogador. O jogo não só permite criar a personagem como ainda existe uma quantidade gigantesca de equipamento (roupa) para desbloquear, sendo que esta traz benefícios no combate ao aumentar marginalmente certos atributos. Em termos da personagem, para além do género pode-se escolher o estilo de cabelo, cor dos olhos e a cor da pele, o que representa um aumento de opções em relação ao antecessor. Já em termos de equipamento, a grande novidade vai para a maior facilidade em se conseguir as melhorias de atributos pretendidas através de opções novas, quando no primeiro jogo era aleatório.Tratando-se de um jogo onde o controlo do mapa é crucial, fazia todo o sentido este estar sempre visível no GamePad da Wii U, até porque é possível em qualquer altura voar para o local onde está um companheiro de equipa. Com a ausência de um segundo ecrã na Switch, o mapa agora é visível ao carregar num botão, cobrindo assim todo o ecrã. Isto é uma solução viável quando se é morto, mas pouco prática fora desta situação. No mínimo deveria haver um mini-mapa sempre visível de forma a ser possível analisar o estado do cenário em qualquer situação. Outra perda devido à falta de ecrã extra é o minijogo que se podia jogar entre rondas online.
Splatoon 2 passa-se dois anos depois do original, no mesmo universo onde várias espécies marinhas evoluíram e ganharam características humanóides, criando uma sociedade moderna e urbana semelhante à sociedade humana. Estranho de início, rapidamente se fica rendido ao carisma e consistência deste mundo, continuando a ser um dos pontos fortes da série, até pela forma inteligente como apresenta diversos modos e aspectos do jogo. A campanha continua a centrar-se na guerra entre os Inklings (lulas) e Octolings (polvos), sendo que estes mais uma vez roubaram o Great Zapfish. Desta vez o jogador é recrutado por Marie, membro do famoso duo musical Squid Sisters.
Como se pode ler em mais pormenor num artigo anterior do FNintendo, Splatoon 2 continua com a sua abordagem única no modo campanha, usando as mecânicas referidas para criar níveis que estão mais perto de um jogo de plataformas ao estilo de Super Mario Galaxy do que de um jogo de tiros como Call of Duty. Em relação ao seu antecessor, os níveis estão bastante mais trabalhados, com adição de diversos elementos novos com os quais se pode interagir, maior variedade de cenários e um aumento (bem-vindo) do nível de dificuldade. Agora também é possível usar outros tipos de armas na campanha, sendo que estas vão sendo progressivamente desbloqueadas, havendo diversos níveis que na primeira vez têm de ser completados com uma arma específica, uma decisão estranha. Infelizmente a sequência final está longe da genialidade do original, deixando um sabor agridoce no fim da campanha. No entanto, quem apreciou a campanha do primeiro jogo certamente gostará desta, ainda que a série tenha potencial para algo bastante mais ambicioso.O prato principal continua a ser o multijogador competitivo online, onde duas equipas de quatro se defrontam, desta vez já com todos os modos e funcionalidades que foram adicionados ao antecessor depois do seu lançamento. O modo principal tem o nome de Turf Wars, onde o objectivo é tentar pintar o máximo do mapa com a sua cor, sendo a única modalidade disponível fora das Ranked Battles. Já estas têm três modos diferentes (e mais complexos) de jogo: Rainmaker, Splat Zones e Tower Control, inspirados em clássicos dos jogos de tiros mas com características únicas devido à jogabilidade de Splatoon. Seja nas Turf Wars ou nas Ranked Battles, é possível jogar contra outros jogadores em conjunto com amigos. Nas Turf Wars isto é feito através de uma sala onde os contactos já estejam e nas Ranked Battles através de um modo específico, conhecido como League Battles onde se criam equipas. Obviamente que também é possível criar salas privadas onde se pode jogar só com amigos e em qualquer modo. Em termos de mapas, existem por enquanto oito, sendo que dois são versões modificadas de mapas já existentes no antecessor. Já os novos têm qualidade, ainda que vários deles sejam estruturalmente muito semelhantes, não tendo a grande variedade encontrada no primeiro Splatoon. Infelizmente muitos dos problemas do primeiro jogo passaram para a sequela, visto que continua a não ser possível trocar de armas e equipamento enquanto se espera por todos os jogadores, não existe qualquer opção de comunicação por voz fora do modo Online Lobby (que não foi possível testar porque requer a aplicação móvel que só estará disponível no dia 21 de Julho) e mantém-se a rotação de mapas em cada modo, desta vez de duas em duas horas, que só permite jogar em dois mapas diferentes nesse período de tempo.
A grande novidade de Splatoon 2 é o modo Salmon Run, a sua versão do popular modo Horde, que costuma estar presente em grande parte dos jogos de tiros e que mete o jogador numa luta pela sobrevivência à medida que várias vagas de inimigos vão surgindo. Como seria de esperar, Splatoon 2 tem a sua própria maneira de gerir este modo ao acrescentar um objectivo adicional: recolher uma certa quantidade de ovos dourados que provêm apenas dos inimigos mais difíceis. Não só isto implica que o jogador não se pode refugiar num local abrigado, como motiva-o a correr riscos para obter melhores pontuações. Em conjunto com a jogabilidade única, mais uma vez é criada uma dinâmica que o diferencia dos seus pares mas que é igualmente viciante. É importante referir que todos os inimigos e mapas neste modo são únicos, sendo que os inimigos que deixam os ovos dourados têm mecânicas específicas e interessantes e nas vagas de maior dificuldade, a sua conjugação consegue criar situações dificílimas que só as melhores equipas conseguem ultrapassar. Este modo permite jogar sozinho ou com mais jogadores até um total de quatro e com um ajustamento da dificuldade. Tal como nos modos competitivos, Salmon Run também tem um sistema de rotação, neste caso de mapas e armas. No caso das armas, vão sendo mudadas de forma aleatória a cada vaga de inimigos. O estranho é que esta rotação não é constante, ou seja, nem sempre é possível jogar online o modo Salmon Run. Pelo calendário que já é possível ver, as rotações parecem ser aceitáveis, estando o modo disponível todos os dias e em horários grandes mas não se sabe como será no futuro.Em termos de longevidade, até por ser um jogo com uma forte componente multijogador, Splatoon 2 pode ser jogado até ao fim dos tempos mas isto não significa que não tenha o conteúdo e sistemas necessários para incentivar os jogadores. A campanha tem uma duração de cerca de seis horas mas pode-se estender por muitas mais para quem decidir completar os níveis com armas diferentes ou apanhar todos os elementos desbloqueáveis. Já o multijogador competitivo tem um sistema de evolução por níveis que é usado para ir desbloqueando mais equipamentos e armas, assim como uma classificação da habilidade do jogador nos modos Ranked. Também no Salmon Run há um sistema de níveis com outros benefícios. No entanto, o que potencia a longevidade de Splatoon 2 é que todos os modos multijogador podem ser jogados localmente ao ligar várias consolas, cada uma com a sua cópia do jogo. Finalmente, é preciso não esquecer que o jogo vai receber conteúdo novo e gratuito durante pelo menos um ano.
Depois do sucesso do primeiro jogo, é evidente que os valores de produção aumentaram e nota-se uma clara melhoria do grafismo, para além da resolução quando se joga num ecrã de televisão. Tudo desde os efeitos de luz, modelos, sombras, texturas e qualidade de imagem recebeu grandes melhorias e que em conjunto com a excelente direcção artística, tornam Splatoon 2 num dos jogos mais bonitos da consola, sem esquecer a fluidez impecável em termos de framerate. A sonoplastia mantém o brilhantismo encontrado no antecessor, encaixando perfeitamente na temática urbana do jogo e consegue até ser superior nos temas da campanha. Uma novidade é que o modo Squid Beats não só permite ouvir a banda sonora como tem incorporado um minijogo de ritmo e está disponível sem a necessidade de ter um amiibo específico.
Conclusão
Respondendo à questão inicial, Splatoon 2 é sem dúvida digno do número “dois” à frente do seu nome, ainda que seja uma sequela conservadora. O excelente modo Salmon Run, a adição de multijogador local, o imenso conteúdo novo e a campanha melhorada, ainda que o final desiluda, acrescentam ainda mais à jogabilidade fantástica e viciante que caracteriza Splatoon. O que não se percebe são certas decisões e a falta de algumas funcionalidades em vários modos de jogo.
O melhor
- Jogabilidade e mecânicas continuam brilhantes
- Adições como o Salmon Run e multijogador local são de valor
- Apresentação audiovisual fantástica
- Campanha melhorada...
O pior
- ...mas com um final abaixo das expectativas
- Limitações e falta de funcionalidades sociais inexplicáveis
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.
18 de Julho, 2017, 15:39