
ANÁLISE
Mario + Rabbids Kingdom Battle
Cuidado, os Rabbids invadiram o Reino Cogumelo.
Por Pedro Meleiro a
Apesar de atribulado, o apoio da Ubisoft nas plataformas Nintendo tem sido um dos mais expressivos no universo das third parties de renome na indústria. Para a Wii U, a Nintendo recebeu ZombiU a acompanhar o lançamento e quase teve garantida a exclusividade da sequela do aclamado Rayman Origins. Mas o parco sucesso comercial da antecessora da Switch pregou uma rasteira à gigante de Quioto, culminando num apoio limitado a pouco mais do que Just Dance nos seus últimos anos de actividade. Recuperar a confiança da produtora francesa para investir numa nova plataforma pode ter estado na origem da cedência das populares personagens do Reino Cogumelo para um universo de jogos da Ubisoft muito em voga no tempo da Wii - é isso mesmo, os Rabbids estão de volta!
Numa série de eventos difíceis de explicar por palavras e que envolvem uma máquina de lavar a roupa, os Rabbids foram parar ao Reino Cogumelo e viraram as coisas do avesso. Como não podia deixar de ser, existem malfeitores que querem pôr as mãos ao poder - neste caso, um inofensivo Rabbid bebé que no processo de teletransporte ganhou acesso a um objecto muito peculiar: uns óculos de realidade aumentada capazes de juntar dois corpos para criar um mais poderoso e de endiabrar o espírito bem disposto dos Rabbids. Mario une esforços com os Rabbids que escaparam a esta onda de descaracterização do reino eternamente metido em sarilhos mas, para além de contar com companheiros muito invulgares, também envereda por um género de jogo muito pouco familiar ao herói bigodudo - um RPG táctico por turnos.O jogador começa a jornada com uma equipa de três heróis: Mario, Rabbid Peach e Rabbid Luigi. Estes dois últimos são versões carnavalescas das respectivas personagens mas com personalidades contemporâneas um tanto vincadas (Rabbid Peach é uma obcecada pelas selfies e tem até um canal no Instagram). Os combates sucedem-se por turnos alternados entre heróis e vilões, com cada herói a poder executar uma acção de movimento e outra de disparo de arma numa fase inicial. Outras habilidades, tanto activas como passivas, podem ser desbloqueadas posteriormente recorrendo a uma árvore de habilidades específica para cada personagem. Também as armas são exclusivas a cada personagem e podem ser adquiridas com moedas coleccionadas ao longo da jornada. Estes factores garantem que cada personagem desempenha um papel único na equipa; como tal, a escolha de apenas três personagens num total de oito desbloqueáveis (Mario, Peach, Luigi, Yoshi e os respectivos Rabbids) para levar a combate deve ter em consideração as características de cada combate e como melhor tirar proveito delas.
Pegando no assunto dos combates, uma batalha tem um de vários objectivos, tais como derrotar todos os inimigos ou um certo número de inimigos, derrotar um inimigo em particular ou até fazer chegar um aliado a uma área predeterminada do cenário. O cenário desempenha também um papel de peso na forma como o jogador define as suas acções, já que estes podem combinar elementos tão diversos como muros para proteger as costas (alguns destrutíveis, outros não), tubos de canalização que permitem transitar instantaneamente entre duas áreas, zonas de altura mais elevada para tirar vantagem de um ataque mais poderoso e visibilidade privilegiada, ou até personagens neutras no combate que vão actuar mediante certos estímulos - por exemplo, um Chain Chomp dá uma mordidela a quem estiver mais perto dele. Podem também existir caixas de efeitos ao longo do mapa e que actuam sobre as personagens que se encontrem próximas destas para efeitos variados: o mel impede uma personagem de se mexer, as chamas aplicam danos do tipo fogo, os explosivos projectam um inimigo para longe, entre outras surpresas engraçadas. Na verdade estes e outros efeitos podem estar também presentes nas armas das personagens, sejam heróis ou vilões.Voltando às habilidades dos heróis, vale a pena referir uma mecânica que torna Mario + Rabbids Kingdom Battle tão divertido de jogar, que são as interacções entre personagens. A acção de salto é usada de forma combinada e tem sido um dos pontos chave no marketing do jogo. Esta pode ser despoletada apontando o cursor da acção de movimento sobre um dos heróis, permitindo saltar para uma posição de maior alcance no mapa ou até, com a habilidade certa desbloqueada, aterrar em cima de um inimigo para provocar uma boa dose de danos extra. Também é possível usar esta mesma acção de movimento sobre um vilão para lhe pregar uma bela rasteira e esconder atrás de um muro logo de seguida. As armas secundárias aumentam ainda mais o leque de estratégias a adoptar: o martelo permite atacar vários inimigos de uma assentada que estejam nas proximidades, o canhão tem um alcance inigualável, o carro com piloto automático segue um alvo no decorrer dos turnos e explode quando alcançado. Numa primeira observação superficial, parecia fácil descartar esta junção como um RPG táctico ligeiro que procura amealhar algum dinheiro fácil com a popularidade das duas séries mas rapidamente se torna claro que as possibilidades são múltiplas na definição de estratégias de combate.
O universo de Kingdom Battle está estruturado em quatro áreas principais, cada uma composta por oito secções, com cada secção a englobar uma média de dois combates (embora possa variar). No sentido de dar alguma variedade à acção de Mario + Rabbids os combates são intercalados por momentos de exploração com quebra-cabeças, havendo centenas de artigos para encontrar, tal como armas para o catálogo, coleccionáveis para o museu (arte conceptual, modelos 3D, faixas da banda sonora) ou moedas e esferas, que depois são convertidas em novas armas e habilidades. Nas primeiras horas os momentos de exploração parecem um tanto lineares e simplistas mas eventualmente são introduzidas barreiras que requerem determinadas capacidades (só adquiridas mais tarde) para abrir caminho, garantindo algum incentivo para voltar a repetir secções anteriores. Fora destas quatro áreas principais, existe ainda um recinto para combates em multijogador local, capacidades para figuras amiibo, a máquina do tempo que permite repetir combates anteriores ou enfrentar desafios encontrados pelo mapa e que constituem combates opcionais com um nível de dificuldade mais interessante.Apesar de ser uma proposta bastante bem realizada e com potencial para se tornar num dos títulos favoritos deste ano de estreia da Switch, Mario + Rabbids tem também a sua dose de arestas por limar. No campo das falhas técnicas, de realçar os ocasionais bloqueios (o jogo pára por um ou dois segundos em situações completamente aleatórias) e os não invulgares problemas com a transição entre animações nas personagens. Em termos de opções de desenho, alguns jogadores podem ficar um pouco insatisfeitos com o grau de dificuldade algo reduzido, pelo menos durante a primeira metade do jogo. A verdade é que, apesar de os níveis estarem bem desenhados e de haver uma boa distribuição na forma como inimigos e habilidades são introduzidos, o jogo demora umas boas horas a escalar a dificuldade. Esta decisão é certamente consciente e terá como objectivo torná-lo acessível a um público menos familiarizado com este estilo de jogo mas parece importante apresentar uma solução para os mais destros no universo dos RPGs tácticos e torná-lo divertido para todos. Embora os combates nunca sejam excessivamente longos, está em falta uma opção que permita salvaguardar um combate a meio, funcionalidade que pode ser encontrada noutras propostas do género.
Conclusão
Mario + Rabbids Kingdom Battle é um jogo improvável: não só vemos a Ubisoft a dar uso a algumas das mais famosas personagens da Nintendo e ao seu vasto universo como também opta por um género pouco convencional no longo catálogo de jogos com Mario estampado no título. O resultado surpreende pela positiva e demonstra ser capaz de dar nova vida a um género que parece destinado a afugentar um leque de jogadores menos dedicados mas que, com os ingredientes certos, é capaz de apreciar um RPG táctico por turnos.
O melhor
- Apelativo a jogadores menos experientes no género
- Combates adquirem um bom nível de profundidade
- Personagens com habilidades e personalidades distintas
- Introdução faseada de novas mecânicas garantem um interesse continuado
O pior
- Secções de exploração podiam ser melhor trabalhadas
- Algumas arestas por limar no departamento técnico
- O humor dos Rabbids torna-se um pouco saturante
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Ubisoft.
30 de Agosto, 2017, 05:39