
ANÁLISE
Implosion: Never Lose Hope
Ameaça de extinção.
Por Pedro Meleiro a
Nunca terá passado pela cabeça de muita gente pensar que há uma indústria de videojogos em Taiwan mas ela existe e já vem de há muito tempo. De facto, uma rápida pesquisa revela que durante os anos 80 e 90 eram múltiplos os estúdios que, naquela pequena e distante ilha ao largo da China, ocupavam as suas horas de trabalho a criar dezenas de obras para consolas como a NES e a Mega Drive, algumas delas chegaram até a ter um lançamento internacional. A partir dos anos 2000 a popularidade dos MMORPG deu um novo rumo à indústria taiwanesa e começa a assistir-se então a produções como Aura Kingdom, Runes of Magic ou Eden Eternal. Outros casos de sucesso incluem a XPEC Entertainment, que mais recentemente colaborou com a Square-Enix no desenvolvimento de Final Fantasy XV. Não menos relevante tem sido o papel da Rayark Games, empresa de Taipé responsável por Voez, título de lançamento da Switch e que agora volta à carga com Implosion - Never Lose Hope, com a Flyhigh Works a ter mão no seu lançamento.
Este é um jogo de acção inserido num ambiente pós-apocalíptico vinte anos após o incidente que quase pôs fim à raça humana e ditou a sua partida para Ivonix, uma estação espacial que observa as duas colónias humanas ainda em solo terrestre. Cabe ao jogador assumir o controlo de Jake no seu mortífero War-Mech e dar uma lição aos XADA, formas de vida misteriosas que, por alguma razão, se dedicam a atacar os humanos. No que ao enredo diz respeito, este é um jogo que parece levar-se demasiado a sério e que embarca numa demanda contínua em busca daqueles ingredientes que caracterizam as produções Hollywoodescas mas sem o ser. Uma tentativa de provar que é possível fazer um brilharete audiovisual sem orçamentos milionários? Talvez mas o resultado é um pouco bizarro de tão bipolar que se revela.Por um lado, as sequências cinemáticas em 3D mostram uma forte capacidade técnica e sentido estético da equipa envolvida; também a arte mais crua das personagens e alguns cenários nas sequências 2D estão bem conseguidas e resultam numa mistura interessante de estilos. No entanto, a escrita dos diálogos e a seriedade com que estes são interpretados pelos actores são de levar a palma da mão à cara. Não menos caricata é a quantidade de informação com que o jogador é bombardeado durante todas estas sequências, que surgem sempre no início de cada nível e que contribuem para um efeito de confusão tal que o cérebro a certo ponto desliga da história e só é capaz de apreciar o trabalho audiovisual que se sequencia sem grande lógica. Não parece haver grande noção de distribuição e do papel que esta desempenha em dar mais impacto à acção.
O mesmo problema reflecte-se também nos momentos jogáveis. Verdade seja dita, um jogo que envereda pelo estilo "hack 'n' slash" quase que está, por definição, destinado a ser um festim sem parar de inimigos a surgir de todas as direcções e um protagonista capaz de sair imaculado. Mas esta excentricidade não implica que um nível não seja meticulosamente estruturado para entregar algo com uma intenção e, com isso, criar momentos memoráveis. Há óptimos exemplos disso, como Bayonetta ou Devil May Cry, ambos intensos mas metódicos. Em Implosion não parece haver esse tipo de cuidado na forma como os níveis são desenhados, optando pela quantidade de níveis que se sucedem onde pouco ou nada de relevante é introduzido. O grau de dificuldade baixo torna-o acessível a um público mais vasto mas abdica do que os grandes nomes do género fazem tão bem: desafiar o jogador a encontrar padrões de movimento e ataque de um inimigo e como tirar partido disso. Os padrões dos bosses também não são desafiantes mas são desenhados com o intuito de fazer durar as batalhas e, com isso, tentar escalar a dificuldade artificialmente, procurando que o jogador cometa algum deslize.Mas Implosion também tem as suas virtudes. Dispõe de várias opções de personalização do veículo que permitem melhorar características como defesa ou ataque, usar diferentes tipos de armas ou escudos, aumentar bónus como a obtenção de novas habilidades ou de dinheiro para aquisição dessas habilidades, entre vários outros efeitos. Existem medalhas para adquirir em cada nível, que estão dependentes de uma boa prestação e do cumprimento de requisitos específicos, tais como não usar uma arma de disparo ou chegar ao fim antes do tempo estipulado. É ainda possível desbloquear um segundo mecha após adquiridas uma quantidade de medalhas e que propõe algumas diferenças mecânicas. O empenho aplicado nesta vertente de personalização é interessante e garante a Implosion um maior interesse continuado e a vontade de repetir níveis anteriores mas, como foi antes dito, é nas mecânicas base que o título da Rayark não convence. É um jogo que não exige muito do jogador e que se contenta em entregar uma experiência fácil de pegar e largar sem deixar marcas, algo que parece mais orientado a jogos para dispositivos móveis, acusando a sua origem anterior à sua chegada à Switch e mostrando-se de certa forma desenquadrado no catálogo da híbrida da Nintendo.
Conclusão
Implosion: Never Lose Hope é um título com uma componente de personalização bem vincada mas que não é capaz de tirar bom proveito desse sistema devido a secções de combate desapontantes. O desinteressante (mas extenso) leque de níveis, as repetitivas hordas de inimigos e a falta de momentos memoráveis fazem de Implosion uma experiência tão efémera quanto fácil de esquecer. Os valores de produção "de dar no olho" aumentam ainda mais o sentimento de algo que a Rayark não foi capaz de entregar na totalidade, ficando aquém nos aspectos mais elementares e nos quais era importante ter havido uma maior dedicação.
O melhor
- Valores de produção elevados
- Sistema de personalização interessante
O pior
- Grau de dificuldade artificial
- Inimigos repetem-se demasiado
- Desenho de níveis pouco ambicioso
- Componente narrativa sem momentos memoráveis
21 de Setembro, 2017, 15:31
cumps