
ANÁLISE
Chicken Wiggle
Um pintainho e uma minhoca.
Por Sérgio Mota a
Chicken Wiggle criou bastante expectativa, sendo um novo projecto a solo de Jools Watsham, criador que participou em Mutant Mudds, Dementium: The Ward e Xeodrifter, entre outros. O seu currículo extenso, coerente e com propostas de qualidade deixava antever uma boa obra, ainda para mais sendo um projecto a solo onde a sua criatividade seria apenas cerceada pelos seus limites.
Chicken Wiggle é um jogo de plataformas em duas dimensões num estilo retro e com um visual que remete à era das consolas 32-bit. Como é habitual neste tipo de jogos, o enredo é parco em sentido, pouco coerente e serve apenas para dar o mote à aventura. É apenas dada a conhecer ao jogador a história de uma galinha que após ser raptada por uma bruxa malvada consegue evadir-se e vai aliar-se a uma minhoca numa missão para resgatar as restantes galinhas que sofreram o mesmo destino.
A mesma simplicidade presente no enredo é transcrita para a sua jogabilidade, os níveis são simples e os novos elementos são introduzidos gradualmente, como que num tutorial progressivo encapotado. Os controlos funcionam extremamente bem e são bastante intuitivos, algo que não surpreende dada a grande experiência de Watsham.A aventura progride ao longo de 48 níveis com graus de dificuldade no geral muito reduzidos, apesar do crescente nível de complexidade baseado na maior diversidade de inimigos e mecânicas de jogo. O nível de dificuldade nunca chega a ser verdadeiramente desafiante mesmo nos momentos finais do jogo. Apesar de curtos, os níveis são variados e os novos elementos são introduzidos gradualmente, mantendo a experiência desafiante e viciante. O objectivo final de cada nível é o resgate de uma galinha, suficiente para progredir mas para quem o pretenda completar a 100% existe um desafio acrescido que consiste em reunir as letras F, U e N, para formar a palavra FUN. Apesar da ousadia da ideia, procurar as letras é realmente divertido, mesmo que algumas se encontrem em locais óbvios mas a sua procura constitui um desafio que proporciona momentos muito gratificantes e bem dispostos, contribuindo não só para aumentar de dificuldade do jogo mas também para prolongar a sua longevidade, que é bastante reduzida.
Ao nível visual, o jogo apresenta um ambiente característico da era 32-bit, com apelos à nostalgia dos jogadores da época. À semelhança de Mutant Muddsos sprites são bastante coloridos, bem animados, com possibilidade de utilizar o potencial 3D da consola mas que, apesar de bem implementado, não acrescenta nada de adicional ao jogo, sendo um recurso perfeitamente dispensável. Os 48 níveis apresentam uma temática própria, muito bem demarcada, primando pela sua simplicidade. O ambiente sonoro, não sendo memorável, está longe de ser algo genérico e acompanha muito bem a aventura, adicionando-lhe valor.
Aliado ao modo aventura existe um modo secundário de construção de níveis. Ao contrário do que seria de esperar, é aqui que Chicken Wiggle se destaca, graças à possibilidade de criação de níveis muito ao estilo de Super Mario Maker. A ferramenta de níveis é bastante completa e intuitiva, com uma quantidade de recursos disponíveis que contrasta com a simplicidade do seu uso e implementação, proporcionando longas e boas horas que estendem drasticamente a longevidade do jogo e lhe acrescentam valor. Esta característica permite ainda partilhar níveis e jogar níveis de outros criadores, encontrando aqui quiçá o desafio tão aguardado.
Conclusão
Chicken Wiggle apresenta-se como uma proposta bem desenvolvida para os fãs de jogos de plataformas 2D. Apesar da aventura principal ser simplista, de uma dificuldade parca e longevidade curta, no seu modo online encontra-se todo um desafio que está ausente da sua componente principal. Com um modo de construção de níveis surpreendente, completo e viciante e com a possibilidade de jogar as criações de outros jogadores, Chicken Wiggle oferece várias horas de conteúdo e com um grau de dificuldade variado, tornando-se (surpreendentemente) numa das melhores propostas deste género no vasto catálogo da Nintendo 3DS.
O melhor
- Jogabilidade simples e intuitiva
- Vertente audiovisual bastante competente
- Modo de criação de níveis simples, completo e intuitivo
- Longevidade elevada
- Funcionalidades online
O pior
- Aventura principal pálida em relação aos modos secundários
- Preço um pouco desajustado
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo 3DS, gentilmente cedido pela Nintendo.
17 de Outubro, 2017, 08:03