
ANÁLISE
Solatorobo: Red the Hunter
DS
Por Fábio Pereira a
A História reza muitos casos de pérolas “vagamente” ofuscadas pelos holofotes centrados nas novidades da indústria. Obras talvez menos convencionais que se destacaram por um pormenor ou por todo o seu ambiente artístico, mas com poucas hipóteses de sobreviver num mercado mainstream agressivo e "acomodado". Numa altura em que o 3D dá o primeiro passo na longa jornada que as consolas portáteis começaram, Solatorobo: Red the Hunter chegou a tempo de tomar posição na DS antes que o risco o tornasse em mais uma dessas grandes aventuras desconhecidas que todos querem ver fora do seu tempo, mas que na estreia poucos compram bilhete.
Pode ser muito cedo para fazer tal apreciação, mas Solatorobo é uma caixa sem rótulo recheada de surpresas. O primeiro contacto apresenta-nos um universo onde os céus guardam histórias maiores do que a própria terra. Habitado por Caninus e Felinekos, temos um cenário onde os animais antropomórficos e a tecnologia de ponta assumem o papel principal. Red Savarin é um caçador de recompensas que, juntamente com a irmã Chocolat, sobrevoam as ilhas em busca de todo o tipo de trabalho que lhes garanta a sobrevivência. Num dia perfeitamente normal na vida destes Caninus exploradores, o destino cruza-os com um Felineko misterioso que vai alterar por completo o curso das suas existências.


Cães e gatos com roupa! Só lhes falta pilotar aviões... oh espera...
A história revela-se aos poucos e no início deixa que o jogador crie alguma ligação com o mundo onde tudo se desenrola, conhecendo as cidades, lojas e personagens. Por aqui é fácil notar a qualidade artística deste título, não apenas pelas sequências anime ou pelo fantástico uso do 2D dinâmico para relatar os acontecimentos mais importantes, mas por cenários com um traço fabuloso que respiram vida através de detalhes capazes de fazerem a diferença. Esta dedicação revela os seus frutos quando nos prende ao primeiro instante, ou nos deixa lembranças de momentos que destacam, não só um herói, mas um mundo inteiro na nossa memória. E as músicas que acompanham a aventura assumem alguma responsabilidade nisso. Não são sinfonias majestosas, mas alguns temas suaves ao ouvido melhoram consideravelmente o ambiente.
Os robôs e as grandes embarcações voadoras fazem parte do quotidiano, e nisto também reside parte da jogabilidade. Red controla um pequeno mech vermelho apelidado de Dahak. Pequeno, mas poderoso. Podemos subir de nível ao ganhar experiência e comprar peças para aumentar as suas capacidades de força, defesa ou mobilidade, com um toque de personalização ao bom estilo de um RPG. Já no campo da acção a velocidade cruza a repetição. Tal como em grande parte da resolução de puzzles a base assenta em levantar e atirar objectos. O mesmo se passa nos combates. Conforme a estrutura dos inimigos, teremos de adoptar tácticas que nos permitam levantar e atirá-los pelo ar, perfazendo alguns combos em arremessos sucessivos. Embora bastante fluido não demora muito até se tornar algo repetitivo e básico. Não oferece grande margem de manobra para inventar novas abordagens, a não ser atirar os adversários uns contra os outros. A dificuldade também não abona a seu favor, porque até os inimigos aparentemente mais poderosos não se revelam grande desafio.


Apanha e lança. Tão fácil como jogar ao atira.
As missões disponíveis, por seu turno, são de uma enorme variedade. Correr atrás de miúdos traquinas, limpar o lixo dos esgotos, defender aviões de mercadorias, tudo isto e muito mais sem sequer entrar nas missões principais para avançar na história. Com novas missões para descarregar pela internet, pode-se dizer que não falta o que fazer e que a longevidade é bastante generosa. Para quem gosta de velocidade, existe ainda uma vertente de corridas com aviões que pode ser acedida em separado e que incluiu pilotos, pistas e itens, como um se de um jogo de corridas fosse, à qual se junta a possibilidade de participar em interessantes sessões multijogador.
Conclusão
Um universo encantador com personagens carismáticas, actividades variadas, conteúdo para download e valor de repetição realçam, numa perspectiva artística muito própria, a linha que separa um título medíocre de uma pequena obra de arte. Solatorobo: Red the Hunter peca por alguma falta de ambição na personalização do robô, nos elementos de RPG em geral e na dificuldade, sem contudo deixar de envolver. Em suma, um desses poucos jogos que escolhe o jogador pelo seu valor e que, teimando em fazer da DS uma consola de eleição, já devia estar na vossa consola!
O melhor
- Universo e personagens carismáticas
- Excelente trabalho na componente visual/gráfica
- Variedade de missões e conteúdo por download
O pior
- Combate algo repetitivo
- Dificuldade baixa