
ANÁLISE
Bit. Trip Runner
Por João Tavares a
Já não é a primeira, nem a segunda, e muito menos a terceira vez que vemos Bit Trip no WiiWare. Passado apenas um ano, os fãs do serviço de downloads da Wii contam com quatro títulos desta popular série que já conquistou o seu espaço de uma forma bastante merecida. O último esforço da Gaijin Games, equipa de produção, dá-se pelo nome de Bit Trip Runner e coloca CommanderVideo no centro das atenções, com a personagem a participar directamente na acção ao invés da habitual presença passiva em pequenas sequências de filme dos anteriores títulos. Mera coincidência, ou não, CommanderVideo acaba por estar mais activo no melhor jogo Bit Trip feito até ao momento. Os condimentos? Muita inspiração retro e um level design puramente genial.
O conceito é simples. CommanderVideo corre a um ritmo acertado ao longo de um nível em scrolling horizontal. Ao longo desse caminho vários obstáculos surgem, e cabe ao jogador tomar conta de pequenas acções de forma a evitar que a personagem esbarre ou caia em precipícios. Se a início a nossa preocupação vai pouco mais além do que saltar por cima de rochas ou buracos, rapidamente somos introduzidos a novos elementos, aumentando de maneira exponencial a atenção com que teremos de encarar a corrida de CommanderVideo. Seja a agachar-nos de projécteis ou a activar plataformas que nos impulsionem, o que é certo é que em Runner temos uma diversidade de elementos que até aqui não era habitual nos títulos Bit Trip, onde a simplicidade dos controlos e movimentos reinava. Bit Trip Runner é imensamente mais rico e muito mais trabalhado do que todos os seus antecessores.

O objectivo em cada nível passará então por guiar CommanderVideo do início ao fim sem que este embata ou caia, mas o que pode parecer uma tarefa simples rapidamente se torna numa missão hercúlea para a grande maioria dos jogadores. Até aqui, todos os jogos Bit Trip sempre se evidenciaram pela sua dificuldade excessiva, pelo que Runner não é excepção, mas sempre que cometermos algum erro, ao invés de entrarmos numa espécie de modo Nether, somos obrigados a recomeçar o nível. Claro que com este padrão seria fácil uma pessoa ganhar uma certa frustração com o jogo, mas o design dos níveis está tão bem desenvolvido e o conceito de Runner é tão interessante que acabamos por encontrar motivação suficiente para não nos deixarmos abater por este pesado castigo. Fica o aviso, vão repetir alguns níveis dezenas de vezes, mas dificilmente se deixarão vencer pelo jogo.
Além da "simples" tarefa de levar CommanderVideo de ponto X a Y, os jogadores poderão também apanhar as diversas barras de ouro espalhadas pelo cenário. Estas barras aumentam a pontuação e por vezes chegam a ajudar na escolha do caminho certo e da acção a tomar perante alguns obstáculos, portanto, acaba por ser boa ideia seguir esse trilho. No caso de conseguirmos todas essas barras, teremos acesso a um nível bónus com uma temática ainda mais retro do que a apresentada na campanha principal, havendo total ausência de música e grafismo do mais simplista. Estes níveis extra conseguem ser ainda mais complicados do que os principais. Terminá-los é um desafio quase impossível, quanto mais apanhando todas as barras de ouro, também presentes nesses cenários... Apesar de todo este foco na pontuação, Bit Trip Runner volta a cair na falha dos anteriores episódios: a ausência de funcionalidade Wi-Fi para partilharmos as nossas conquistas com amigos ou utilizadores de todo o mundo. É, no entanto, um problema que perde relevo face a um conteúdo capaz de manter o jogador entretido por horas.

Se nos antigos Bit Trip tínhamos acesso a três capítulos enormes, que tinham de ser completados sem paragens, no caso de Bit Trip Runner a Gaijin Games tomou um rumo bem melhor ao dividir cada um desses três capítulos em 12 níveis. Assim, teremos em Impetus, Tenacity e Triumph um total de 36 níveis, o que é um número bastante bom tendo em conta que nenhum deles é particularmente pequeno, obstante ainda o facto de termos de repetir cada um num modelo tentativa/erro até memorizarmos os obstáculos e conduzirmos CommanderVideo até à recta final. Este conteúdo todo acaba também por se reflectir no preço, já que Bit Trip Runner é 200 pontos mais caro do que os outros títulos da série, custando um total de 800 Nintendo Points. Contudo, o aspecto mais positivo a retirar desta divisão dos capítulos em níveis é o da componente pick 'n play que o jogo adquire, tornando-o mais fácil de pegar em qualquer altura e oferecendo sessões de jogo mais leves e agradáveis.
Graficamente, Bit Trip Runner continua o seu legado de qualidade, apresentando uma variedade de cenários bastante agradável e modelos 3D diferentes do que estamos habituados a ver. Tudo tem um charme pixelizado, mas o polimento está lá e acabamos por sentir todo aquele misto de antiguidade com modernismo técnico, puxando-nos para uma experiência que não encontrarão em mais lado algum. Cada um dos mundos de jogo tem a sua temática própria, mas sempre mantendo a mesma base e estilo, o que facilita a transição entre um e outro sem que o jogador se sinta demasiado chocado com os novos modelos e possa continuar a usar todas as habilidades que até então aprendeu de uma maneira confiante.

Já no plano sonoro não esperem pior do que temos visto em Bit Trip. Aliás, Bit Trip Runner é provavelmente o melhor de toda a série neste campo, o que está longe de significar pouco tendo em conta a prestação elevada dos seus antecessores na área. As faixas musicais estão muito agradáveis e com uma consistência ainda mais elevada, onde cada acção de CommanderVideo acrescenta um efeito sonoro à música de fundo, cujo ritmo altera conforme apanhamos os símbolos rosa do cenário. Pela altura em que tivermos todos esses símbolos, o jogo é envolto numa sonoridade altamente ritmada e harmoniosa conjugada com um belo arco-íris que se espalha pelo caminho percorrido pela personagem. Algo só visto e, sobretudo, sentido.
Conclusão
A Gaijin Games tem feito um bom trabalho com a série, mas Bit Trip Runner é a afirmação definitiva da produtora no panorama do WiiWare. Um título de altíssima qualidade e que facilmente salta para o topo do melhor que podem encontrar no serviço. Uma jogabilidade muito desafiante e capaz de agarrar o jogador por imenso tempo, dando-lhe uma satisfação de dever cumprido inigualável. Visuais únicos e uma componente sonora de alta qualidade que imergem tudo e todos num mundo que até agora se mostrou único dentro da identidade de Bit Trip, mas que nada significará depois de acompanharam o gigante salto dado com esta última entrada.
O melhor
- Desafiante e puramente viciante
- Campanha dividida em níveis de fácil digestão
- Graficamente e sonoramente único
- Jogabilidade variada e alucinante
- Level design genial e cativante
O pior
- Continuamos sem modos Wi-Fi em Bit. Trip...